EXPLORAR
22 agosto de 2016Por Cristiano Carvalho
São vários os motivos que nos levam a deixar o conforto de nosso lar rumo a uma viagem, independentemente de variáveis como distância, destino ou do tempo de sua duração. Dentre todas as forças que nos impulsionam para fora de nosso casulo, o desejo de exploração é o que mais me fascina. A palavra explorar em português pode ter significados que nos remetem tanto a ações nobres, como as de descoberta ou investigação, como ao abuso de recursos ou seres. Em inglês, temos o “explore”, que possui a conotação positiva e o “exploit”, que é sempre negativo. Abordarei aqui a palavra explorar, ou seu equivalente “explore” na língua inglesa, para compartilhar um pouco do que foi a experiência do Summer Camp realizado na University of Missouri em julho passado.
O aluno que decide passar suas férias em um Summer Camp já inicia, no momento de sua decisão uma exploração. A opção por estudar, conhecer novas culturas, morar em um dormitório, visitar universidades, ter que “se virar” longe de seu país e sua família, já constitui uma decisão pelo desafio. É claro que há também os momentos de recreação, visitas à museus e parques, atividades culturais e outros tantos momentos para relaxar e contemplar. Mas o explorar está sempre presente. Desde o primeiro dia, quando os alunos, ao chegar à universidade, receberam as chaves de seus quartos nos dormitórios e foram reagrupados contemplando a diversidade cultural no grupo de mais de 100 alunos de todas as escolas parceiras da Mizzou no Brasil além de alunos americanos, coreanos e chineses. Durante toda a estada dos alunos no campus da Mizzou em Columbia, Missouri, o grande fio condutor que interligava todas as atividades, era a exploração da futura carreira de cada jovem naquele Camp. Os coordenadores brasileiros acompanharam o grupo de perto, mas nem tanto, uma vez que havia para cada grupo de 8 alunos, um aluno da universidade que era responsável pelo trânsito e supervisão do grupo durante todo o Camp. Foi intensa a agenda de visitas, palestras e momentos de interação e reflexão, que culminaram na produção de um portfólio de carreira, no qual os alunos compartilhavam suas características, experiências, dúvidas e possíveis escolhas para as futuras carreiras.
As visitas às principais cidades do estado de Missouri, St Louis, Kansas City e a capital Jefferson City, cumpriram o papel de ampliar ainda mais a vivência multicultural experimentada por todos nós. Em alguns momentos estivemos às margens dos dois maiores e principais rios nos Estados Unidos, o Rio Mississipi e o Rio Missouri, elementos da natureza local que foram peças-chave na exploração do território americano rumo à costa oeste e são ainda hoje rios de grande importância ambiental e econômica para o país. Durante essas viagens pelo estado de Missouri, os alunos não só viram e absorveram, mas tiveram a oportunidade de serem protagonistas em vários momentos, como na simulação de uma entrevista coletiva à imprensa pelo Presidente dos Estados Unidos, realizada na Truman Library and Museum (Kansas City). Ou na simulação de um julgamento em uma corte federal americana, realizada em nossa visita à Jefferson City.
Quando estávamos prontos para retornar ao Brasil, após despedidas na universidade e no aeroporto, nos deparamos com mais uma oportunidade de exploração. Essa não planejada. Um cancelamento de voo em plena semana de abertura dos jogos olímpicos no Brasil nos deixou “presos” por quase uma semana no meio do caminho. Lá estávamos nós, em Chicago, quase Canadá, sem sabermos ao certo quando voltaríamos. Perdi as contas de quantas vezes ouvi funcionários da empresa aérea dizer: “Jesus!” ou “This is not good!” Na pior das hipóteses, somente embarcaríamos de volta uma semana depois da data prevista. O que fazer? Chorar? Ficar doente? Brigar? Que tal explorar? Foi nesse momento que a coesão desse grupo de 15 jovens e eu (nem tão jovem) desempenhou papel fundamental para que pudéssemos transformar um desafio num momento único de exploração. Não mais voltado para às profissões ou ampliação cultural. Agora era o que cada um poderia fazer para que ele e o grupo como um time superasse as adversidades oriundas da imprevisibilidade, tão real, tão humana, tão natural. Apesar de conhecer cada um desses alunos e saber dos seus potenciais, eles superaram todas as minhas expectativas relacionadas às suas capacidades individuais de se auto gerirem e trabalharem em grupo. Não houve atrasos ou reclamações. Não havia colchão ou travesseiro que não estava bom. Havia cuidado e atenção, o tempo todo. Uns com os outros. E foi graças a esse trabalho em equipe que todos nós voltamos bem. E ainda exploramos Chicago, com suas belezas naturais riqueza cultural.
O que cada um de nós aprendeu ou guardou de mais valioso nesse Summer Camp é muito pessoal e somente o tempo vai revelar. Certamente não será uma camisa que desbotou ou um perfume que já acabou. Algo me diz que, seja lá o que cada um de nós um dia relembre como ponto alto desse Summer Camp, estará ligado a alguma exploração. Essa memória não desbota nem evapora. Ela estará conosco ao longo de nossas novas explorações.