Teorema de Marina
3 outubro de 2017Por Filipe Pinel Bermudes, professor de Matemática
Não é de hoje que o famoso Teorema de Pitágoras desperta a curiosidade e o interesse das pessoas. Na verdade, existem registros de sua utilização pelos sumérios 1.500 anos antes que o grego Pitágoras de Samos o descrevesse definitivamente no século VI a.C. A soma dos quadrados dos catetos é igual ao quadrado da hipotenusa! Se por um lado esse poderoso teorema já causou frio na espinha de muitos estudantes, por outro também já inspirou compositores e poetas, auxiliou os construtores da antiguidade, dos egípcios aos maias, está por trás das maravilhosas descrições das leis naturais de Copérnico e Newton e foi paleta e pincel para Leonardo Da Vinci. Enganam-se os que pensam que suas aplicações ficaram no passado. Olhe ao redor, onde existe um ângulo reto lá está ele. Quem envia uma mensagem pelo celular não imagina a viagem pitagórica das ondas eletromagnéticas percorrendo hipotenusas e catetos à velocidade da luz! Mas mesmo um razoável conhecedor dessa verdade matemática e de sua história ainda se surpreende com os efeitos que ela causa ainda hoje sobre os estudantes. Foi o que aconteceu há alguns dias em uma das turmas de 8º ano.
Despertar o interesse e a curiosidade de pré-adolescentes é uma tarefa que se torna mais difícil a cada geração, mais exigente e pragmática que a anterior. Um fator comum, entretanto, parece se evidenciar tanto quanto as acnes e a confusão de hormônios típicas da idade: o interesse quase magnético pelos desafios. Ainda que instigados durante as aulas, é gratificante quando o interesse continua incomodando suas concorridas mentes após o sinal do fim da aula, por exemplo, para desenvolver uma demonstração moderna para o ‘teorema da corda dos treze nós’ (como o teorema era conhecido antes de Pitágoras).
Por isso a surpresa quando fui procurado pela Marina Rosa Martins, aluna do 8ºI1, que atraída pelo novo “poder” que acabara de adquirir, resolveu dar vida aos registros do caderno e do livro. Como a própria estudante relatou quando explicava as motivações do seu trabalho: “Quando ele [o professor] nos ensinou o Teorema de Pitágoras fiquei encantada! E quando passou um vídeo mostrando formas tão diferentes de comprovar essa teoria, tive vontade de fazer o mesmo. E, então, pude mostrar ‘ao vivo’ para minha sala que esse teorema funciona”.
Marina construiu um mecanismo para demonstrar o teorema de forma concreta, ou melhor, de forma líquida (veja o vídeo abaixo). Foi revigorante acompanhar os progressos relatados pela aluna a cada nova aula e divertido saber que toda a família dela estava envolvida. Foram várias idas e vindas, erros e acertos, e por fim o resultado, que não está meramente na demonstração da lei milenar, e sim no brilho dos olhos da aluna.
Este mesmo experimento também pode ser visto no Museu de Ciências La Villette, em Paris (www.lavillette.com).