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Os desafios da preservação com entorno pouco propício

30 junho de 2015

Por Paulo de Tarso Rezende Ayub

A consciência para a preservação – do ambiente natural ao modificado; do patrimônio arquitetônico ao imaterial; das instituições aos indivíduos que as compõem – tem sido uma tônica no currículo do Da Vinci, presente ora como tema transversal, ora como valor agregado (em viagens acadêmicas, projetos culturais e outras ampliações do currículo).

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A maior parte de nossa comunidade abraça esta causa com senso de responsabilidade, mas há um grupo de estudantes que tem optado por ser voz dissonante. Assim, observamos com preocupação, no interior da Escola, pequenos movimentos de pichações nas paredes da sala de aula e danificações em carteiras escolares; descuido no manuseio do lixo e na organização de espaços compartilhados; descaso com o patrimônio público e privado com o qual lidamos como usuários e mantenedores. Até a Praça da Convivência, um espaço concebido para ser sinônimo de harmonia entre vegetais, animais e humanos, tem sofrido os revezes cometidos pelos descuidados, os quais usufruem o ambiente e suas possibilidades, mas não se preocupam em cuidar dele com capricho ou em deixá-lo intacto para o próximo que vier.

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Antenado às situações cotidianas como mote de formação para a vida e apropriação da cidadania, o Da Vinci realizou recentemente um trabalho intensivo com alunos do Ensino Fundamental II para compreender esse processo e transformá-lo em motivo de reflexão e inquietação e, por acréscimo, repensar de atitudes.

Da parte da Diretoria Administrativa, foi organizada uma explanação consistente sobre o tema, tratando desde as campanhas pela preservação e valorização do ambiente natural em Santa Teresa (concurso cultural “Rio Timbuí clama por socorro” e reflorestamento via projeto “Santa Semente”, iniciativas em curso com envolvimento dos nossos alunos de quartos anos) até a visibilização (por imagens e relatos) de atitudes de outros povos, que cuidam da integridade de ecossistemas, patrimônios arquitetônicos e memórias históricas; e que buscam alternativas para enfrentar os problemas da água e do lixo.

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A título de exemplificação, foi resgatado o comportamento de alguns visitantes ao Brasil na última copa do mundo, em especial dos alemães e japoneses, que nos deixaram legados de cidadania, seja ao limpar estádios durante e após as partidas, seja ao interferir sobre o entorno em que se situavam para resgatar a dignidade de pessoas e comunidades.

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Da parte da Orientação Educacional, foi propiciada uma reflexão sobre a condição humana, que agrega cuidadores e destruidores, conscientes e alienados, aprendentes e resistentes ao aprender. E, em vez da atitude meramente punitiva ou saneadora, optou-se por criar um ambiente reflexivo, de troca de impressões a ensaios de pensamento.

Depois de um “trabalho de formiga” em dezesseis salas do Ensino Fundamental II, conseguimos colher alguns pensamentos interessantes por parte dos estudantes e que trazem diferentes perspectivas para situar o problema da desconsideração do patrimônio na realidade nacional: a necessidade de autoafirmação de alguns indivíduos que deixam suas marcas/vestígios para demarcar território por outras vias além do racional; a contaminação provocada por um entorno empobrecido social e culturalmente, que leva o brasileiro a se acostumar (o que não devia) com sujeiras, descuidos e destratos; as escolas como “bolhas”, sofrendo impactos de uma realidade contrastante e às vezes não enxergando para além de seus muros; a educação mais informativa que formativa que as novas gerações recebem nas escolas, sem falar na ausência das famílias e de outras instituições na transmissão de valores; a falta de limite e punição da educação contemporânea. Variáveis complexas que precisam ser enfrentadas de maneira preventiva, saneadora e, por que não, punitiva.

Não há como mensurar os efeitos diretos do trabalho, dada sua carga subjetiva e não-imediatista, mas sentimos reações de mal-estar em alguns indivíduos que se reconhecem nos perfis apontados e colhemos bons subsídios para pensar em modelos de atendimento aos “transgressores” – e também em formas de disseminar iniciativas adotadas pelo Da Vinci para denunciar e combater situações de descaso para com o patrimônio. Vale lembrar que a atitude permanece como o melhor discurso.

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