Mostra do Conhecimento: dos bastidores à exibição
8 outubro de 2019Por Paulo de Tarso Rezende Ayub
Inspirados na experiência positiva da Gincana Cultural, visando à imersão no trabalho concentrado em vez de dispersá-lo ao longo do período, e para termos um fechamento de ano com maior margem de manobra na aplicação de metodologias diferenciadas, de acordo com perfis e necessidades dos alunos (inclusive visando à sua participação no ENEM, a título de treino), decidimos antecipar a culminância do currículo de perspectiva cultural no Ensino Médio, trazendo a Mostra do Conhecimento para o início de outubro, com visão de proatividade.
Com a filosofia da produção colaborativa e da seleção de centros de interesse, já mirando as perspectivas acadêmicas e profissionais dos nossos alunos, os professores propuseram aos alunos treze linhas de pesquisa, distribuídas por diferentes áreas do conhecimento, sendo que cada proposta teria que ser abraçada por dois grupos, dos quais apenas um comporia a mostra final para socialização com o público. Uma novidade admitida neste ano consistiu na composição de grupos com integrantes de turmas distintas.
Assim, durante praticamente uma semana, a Escola converteu-se em um grande laboratório de experimentos e consecuções, ensaios e erros, ativismos e pausas reflexivas, negociações e redirecionamentos. Os grupos executores também demonstraram atitudes bem distintas no contato com o desafio do protagonismo: alguns recorrendo à tecnologia como suporte às suas idealizações prévias e outros aprendendo a lidar com programação para planejar com domínio de causa; alguns traçando com firmeza as etapas do processo produtivo e outros recorrendo à tutoria dos professores e ao auxílio de profissionais do Administrativo para viabilizar suas investidas. Tudo válido e legítimo, só que não visibilizado pela mostra final, a qual, apesar de belíssima, deixa para trás memórias que só os registros fotográficos dos bastidores e o olhar ampliado de quem participa da iniciativa por dentro consegue captar.
Bottega Leonardo, Sala de Artes, Praça da Convivência, salas de aula e até espaços adaptados para montagem de exposições temáticas sobre Literatura foram ocupados e ressignificados pelo aprender a aprender, englobando fazer (maker), conviver, compartilhar e empreender. Decididamente, a apropriação dos espaços físicos em proveito do pedagógico-cultural não é uma questão meramente conceitual de nosso ideário.
Vale aqui um comentário para as interferências sobre o institucional, já esperadas em um projeto com esta amplitude: transferências de locais de reuniões de professores, interfaces das iniciativas dos grupos-executores com as atribuições de rotina dos setores e os planejamentos de outras atividades pedagógicas, disponibilização de pessoas, recursos e mobiliários da Escola com prévio agendamento, tudo canalizado para que os alunos internalizassem uma maior consciência em torno das habilidades de planejamento e logística, como fundamentais a uma boa execução. Obviamente que nem tudo foi um mar de rosas, mas os problemas foram administrados pontualmente e com moderação, além do que sempre vale aproveitar o vivido para aprimorar o futuro.
A tecnologia permanece como faca de dois gumes em âmbito pedagógico porque, ao mesmo tempo que oportuniza acessos, interações e simulações, pode incorrer em riscos de desvio do foco e postagens não condizentes com o contexto escolar. Daí, a necessidade de algumas intervenções por parte da Escola durante o processo, para proposição de limites e tomadas de conscientização. Mas um fato é inegável: os alunos recorrem à tecnologia como suporte, mas não a utilizam como fim em si mesmo. Preferem visibilizar seus trabalhos no presencial, demonstrando maior apreço pelo real do que pelo virtual.
Ao potencial agregador da Literatura — seja em abordagens humanizadas, didáticas e alegóricas pautadas em clássicos literários mediante montagem de salas temáticas; seja na visão de Literatura Combinatória, em que se abriu espaço para que os visitantes se fizessem copartícipes de experimentações, combinações, recursos estilísticos e leques de sentidos — juntaram-se incursões em diferentes níveis pela Arquitetura Funcional, Ciência Aplicada, Meio-Ambiente e Sustentabilidade, Produção de Inventos, Estrutura das cidades e noção de urbanidade, Línguas Estrangeiras como instrumentos interculturais, com os alunos se apropriando do legado de grandes gênios ora como motes culturais, ora como estímulos para exercitar espírito de autoria, criatividade e, por que não extrapolação; e buscando, na medida do possível, priorizar o senso de realidade e a postura cidadã dos executores e apreciadores. Telas vivas de ícones da Renascença, maquetes e protótipos de espaços culturais internos ou externos à Escola, releituras de experiências científicas ou inventos adaptados à realidade dos novos tempos, experimentos propostos ao vivo e atividades sensoriais, dentre outras frentes retratadas em fotografias ou vídeos ilustrativos, compuseram um ‘conjunto da obra’ bastante expressivo, mais ainda se considerarmos a noção de todo para além da mera soma das partes.
Devido à abrangência do trabalho e às múltiplas perspectivas de que se reveste, é preciso avaliá-lo e reconduzi-lo com alguns interferentes e aprimoramentos, para o próximo ano. Mas, sem sombra de dúvida, a Mostra do Conhecimento 2019 deixa marcas indeléveis na trajetória da Escola como um espaço-tempo em que a cena foi dominada por metodologias ativas e mesclas produtivas entre recursos tecnológicos e habilidades socioemocionais.