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DIALOGISMO ENTRE HISTÓRIA E LITERATURA: CONHECER PARA AMAR

18 dezembro de 2014

Por Paulo de Tarso Rezende Ayub

Um tema auspicioso, um homem-enciclopédia, uma coletânea de crônicas. Com essa alquimia de ingredientes, o primeiro momento da semana de planejamento 2014/2015 revelou-se uma preciosidade da formação contínua de professores propiciada pelo Centro Educacional Leonardo da Vinci a profissionais de sua equipe que exercem diferentes funções educativas.

Francisco Aurélio Ribeiro, o explanador, além de uma referência cultural em história e literatura capixaba, traz, em sua bagagem de vida, uma jornada incansável por diferentes países e pelos recantos do Brasil e do Espírito Santo, em viagens presenciais ou pela leitura e pesquisa, tudo sempre em conexão.

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Conhecer o Espírito Santo, tendo-o como guia e consultor, é um exercício de aprofundamento e reconhecimento para os locais, tão acostumados a um provincianismo que subestima as potencialidades do entorno e não propicia amar aquilo que é próximo, pelo olhar despercebido.

A geografia física, humana e psicológica do Estado, conduzida pela perspectiva de historiadores e literatos, propicia aos adeptos e curiosos do tema uma abordagem distanciada da superficialidade e dos lugares-comuns sem sustentação na realidade.

É inquietante como um Estado tão potencial, em torno do qual há uma coexistência de mitos – a terra sem males para os indígenas, a Terra Prometida (Canaã) da Bíblia, o Eldorado das pedras preciosas que despertam a ganância nos desbravadores – vem perdendo força no contexto nacional, lidando com sucessivas perdas que impactam seu desenvolvimento e consideração.

Segundo Francisco Aurélio, o Espírito Santo, reconhecido por Ziraldo como o “ateliê de Deus”, é mesmo marcado por algumas injustiças históricas que retiraram de nossos domínios regiões promissoras (“dadas de mão beijada” para estados limítrofes) e por falhas coletivas que deixam na inércia aquilo que poderia se transformar em profusão.

Francisco Aurélio foi prodigioso em resgatar personagens históricos de relevo, tratados injustamente pelo discurso oficial; defensores arrojados ou anônimos das tantas tentativas de invasão de nosso território; arroubos literários que revisitam e ressignificam a história ou a própria realidade.

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E mostrou-se um entusiasta dos aspectos pitorescos que constituem o jeito de ser capixaba: a identidade construída mais por negação que por afirmação; a titulação por inspiração divina (na terceira pessoa da trindade) e a bandeira com vocação religiosa, mais que ideológica, único exemplar no mundo com cores secundárias; um hino institucional herdado de um discurso estudantil; uma miscinegação que faz coexistirem, no mesmo espaço, diferentes recortes na paisagem arquitetônica, nas manifestações do folclore e nas coisas mais prosaicas ou inusitadas da vida cotidiana; monumentos arquitetônicos que não são tombados nem pelas instituições locais, que dirá por órgãos internacionais. Belezas e fragilidades em conflito.

A leitura saborosa de crônicas, permeadas por explicações contextualizadoras; a linha do tempo como cerne dos processos econômicos e migratórios vividos no estado; o dialogismo entre História e Literatura amparado por fontes literárias múltiplas – são as marcas que ao final se impregnaram em todos os presentes, instigando-os a multiplicar (em 2015) o que absorveram na manhã do planejamento, relativamente ao tema transversal da identidade capixaba e sua diversidade étnica.

O encontro de Francisco Aurélio com nossa equipe pode ser sintetizado como um momento mais sensorial que informativo, mais panorâmnico que focado, mais humanizado que tecnológico. E a mensagem final que ele nos deixa é instigante: em vez de nos perdermos no emaranhado de superficialidades que marcam as redes sociais, aprofundarmos nossos conhecimentos e consciências por meio da pesquisa, interlocução e contato humano. Em vez de nos rendermos às informações distorcidas, bebermos na fonte para ampliarmos nossas compreensões e interpreatções de fatos, casos, tramas. Viajarmos para onde for possível e viável, mas também viajando por aqui e estabelecendo relações/contrastes entre o que está próximo ou distante. Mais do que nos dizermos capixabas, aprendermos a sê-lo com  conhecimento de causa. Até para que o local seja transformado em universal.

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