Centro Educacional Leonardo Da Vinci

LITERATURA COMO AGREGADORA

por Paulo de Tarso Rezende Ayub

A aproximação entre escritores e leitores, tônica do Da Vinci em sua função de potencializar a competência leitora, teve um toque especial no último dia 14/08/2013, com a presença de Luciana Sandroni, autora premiada de livros infantojuvenis marcados com o selo de “altamente recomendáveis”, e cujo maior legado é o resgate de grandes nomes da brasilidade, em diferentes searas: Literatura, Música e até no Cangaço.

A autora é íntima da Escola de há muito, senão no pessoal, por intermédio de sua produção literária, que é base da formação de repertório nos alunos de quintos anos para a viagem acadêmica de Campos do Jordão/Taubaté. Em sua obra “Minhas memórias de Lobato”, lidas por nossos estudantes há mais de dez anos, Sandroni debruça-se sobre a biografia de Lobato para produzir uma narrativa surpreendente, em que ficção e documental se encontram para propiciar muitas aprendizagens/ressignificações.

Particularmente neste ano, a obra “O sítio no descobrimento”, outra ficção histórica da autora que traz resgates saborosos da cultura portuguesa (parte do mosaico de etnias que compõem o povo capixaba), foi adotada como mote do concurso cultural proposto para os alunos da série, visando à combinação entre desenho e expressão poética para traduzir impressões leitoras, inscrevendo-as em painéis de azulejos portugueses. Os alunos leram a obra durante suas férias e agora estão imersos na produção cultural, com ótima dose de envolvimento.

Uma família propiciadora (pai jornalista/escritor e mãe acadêmica/pesquisadora de livros infantis) e a motivação interna foram os impulsos para a constituição da grande escritora, que na infância alimentava desejos de ser ilustradora e astronauta, fruto das contações de histórias partilhadas em viagens de férias na Ilha de Itacuruçá, com o primeiro encantamento vindo da “Viagem ao céu”, de Monteiro Lobato, muito bem recontada por sua mãe/avó.

Na definição de seu projeto de tomar a escrita como ofício (a princípio, movida pela poesia que tanto a acalenta), o curso de Letras foi a opção mais promissora. Imersa em estudos teóricos, a autora, que em adolescente compunha o Grêmio Estudantil de sua escola e escrevia em diferentes gêneros, experimentou um “bloqueio criativo”, até que, em um curso teórico sobre Monteiro Lobato, viu germinar a ideia de se inspirar nele para produzir obras que aliassem humor e existencialismo, a exemplo do que lera em “A chave do tamanho”, em que a ideia da guerra é desconstruída à base de muita filosofia.

O trabalho em bibliotecas e o contato com outros autores infantojuvenis foram também corresponsáveis pela verve criadora de Sandroni, que mantém uma carreira profícua, fazendo da palavra seu instrumento de trabalho, o que impregna seu discurso de uma carga poética tocante para quem a escuta.

Em relação à sua aptidão para romancear histórias de grandes nomes, tudo principiou com o desejo de tornar acessíveis para as crianças biografias às vezes retratadas em tom documental, num discurso mais propício para adultos ou acadêmicos. Em sua farta produção, Luciana já romanceou Lobato, Mário de Andrade, Machado de Assis e Lampião, agora finalizando uma incursão por Noel Rosa e pelo samba carioca. É uma autora que crê no vigor da Literatura para revisitar a História, o que justifica seu reconhecimento em âmbito nacional e internacional.

Após uma rápida preleção, a convidada abriu espaço para um diálogo com nossos alunos, que foram muito articulados em suas perguntas e demonstraram habilidade para selecionar os focos de reflexão. Assim, Sandroni viu-se impregnada de estímulos para discorrer sobre os mais diferentes aspectos: gostos literários e fontes de inspiração; admiração e criticidade em relação à literatura infantojuvenil; êxitos e dificuldades do processo criativo; combinação entre inspiração (rompantes) e transpiração (estudos e pesquisas) em sua obra; projetos em mente e estilo de trabalho. Tudo respondido com muita naturalidade, graça e domínio de causa. Depois do bate-papo no Anfiteatro, a autora gentilmente acorreu à Praça das Invenções para autografar os livros portados pelos alunos, um a um, sempre esbanjando simpatia e afeto, numa troca afetiva e respeitosa.

A passagem de Luciana Sandroni pelo Da Vinci, repetindo um feito de dez anos atrás (meio que no improviso, decorrente de seu contato com professoras da Escola em Bienal do Livro) é daqueles momentos que, temporários na forma, tornam-se perenes na memória. Com seu estilo diferenciado de ser, escrever e discorrer sobre seu trabalho, Luciana Sandroni firma-se como uma ótima parceira para a educação de qualidade e certamente continuará a embalar por muitos anos a concepção de nossos projetos/investidas literárias e a imaginação/criatividade de nossos alunos.