Viagem Acadêmica a Campos do Jordão/Taubaté: vivencial melhor que o planejado
28 outubro de 2016Por Paulo de Tarso Rezende Ayub
- Uma viagem acadêmica, praticamente em seu jubileu de prata, não seria sempre mais do mesmo, numa mera sucessão de reprises?
- O que faz algo tão repisado parecer reinventado? É possível inovar sempre?
- O que torna uma viagem acadêmica tão perene, em um país com tantas possibilidades culturais como o nosso?
Estas e outras questões ocupam a pauta quando se reflete sobre a viagem acadêmica a Campos do Jordão/Taubaté, da qual retornamos agora com mais ingredientes na bagagem, mas sem nunca deixar de projetar perspectivas para o próximo evento.
Viajamos não só presencialmente (quando temos o privilégio de estar nos palcos da vida ao vivo e em cores), mas também pelas sensações e leituras que nos são oportunizadas.
Não há como esgotar um roteiro que congrega Monteiro Lobato, Mazaroppi e Semana de Arte Moderna no foco cultural; Serra da Mantiqueira e cidades do Vale do Paraíba no foco natural/humanizado. Já até se cogitou buscar algum substituto, mas as opções existentes configuram-se menos abrangentes e desafiadoras.
Se os novos visitantes (os alunos) encantam-se com cada detalhe na paisagem cultural, os veteranos (educadores acompanhantes) ocupam-se com suas memórias, vivências, redescobertas. Uma troca produtiva porque traz o olhar não viciado de quem vê pela primeira vez e o olhar experiente de quem já viu muitas vezes, mas sem esgotar o leque.
Depois de tantos anos na estrada, contamos com parceiros permanentes que são quase que uma extensão de nossa Escola, mas nunca nos acomodamos numa zona de conforto que não nos possibilite alterar a rota para testar o diferente e ampliar o rol de possibilidades.
Diante do tanto que já se encontra instituído nesta viagem, seriam de se esperar poucas surpresas. Mas a realidade é dinâmica/criativa e sempre nos propicia um detalhe a mais, alguma coisa que havia passado despercebida, um comentário inesperado.
Eis alguns flashes vividos na viagem deste ano: o encontro face a face, no Museu Felícia Leirner, com uma araucária de mesmo formato que o da escultura Maternidade, nossa velha conhecida; a exibição de telas que estavam guardadas nos bastidores do Palácio Boa Vista (e que nunca nos tinham sido apresentadas); o contato com uma placa indicativa, em Campos do Jordão, à frente da casa que Lobato ocupou com sua família quando precisou cuidar da saúde de seus filhos em ares mais favoráveis que os de sua Taubaté de origem.
Visitar a casa de campo da Escola (um dos momentos mais apreciados pelos alunos) para perceber novas conexões entre arquitetura e entorno, design e função de cada cômodo, estilos artísticos e funcionais converteu-se mais em uma aventura do que em propriamente uma atividade preconcebida.
A parte natural da viagem de 2016 assumiu um gosto de novidade para todos, o que mostra o potencial da região para ensaios e experimentações. A Fazenda Lenz com seu chorão sobre o lago, campos floridos e cascatas repletas d’água trouxe para os viajantes o desejo de silenciar e contemplar. Os Jardins do Amantikir, um projeto que parecia mirabolante mas tem se mostrado pragmático, apuram o olhar do visitante para o belo e o virtuoso; trazem um gostinho de deitar na relva, enredar-se no labirinto, adivinhar nomes de flores e sentir seus aromas. Natureza prodigiosa, humanizada em proveito da sustentabilidade.
Andar a sós e a salvo pelo Capivari (agora com nova roupagem depois de receber um calçadão “estiloso”), constitui para os alunos um rito de passagem. Sentem-se empoderados e desejosos de exercer autonomia, conversar com outros visitantes, fazer escolhas. Caminham em pequenos grupos, aparentemente libertos, mas sentindo-se assistidos. Querem usufruir a carreira-solo, mas volta e meia buscam os acompanhantes, porque o sentido da felicidade está em compartilhar.
E, à medida que a viagem se desenrolava, alunos-monitores iam ensinando aos outros coisas que aprenderam em suas pesquisas (viagens por outras vias), praticando leitura de contexto, relações entre o lido e o vivido, o ideal e o real. Assim, o entorno vai se tornando mais atrativo para quem o visita (pela primeira ou enésima vez), porque se vê além das aparências, buscando sempre um quê não apropriado a distância.
E, como um outro diferencial desta viagem que demanda tanto planejamento e avaliação, trazemos um retorno às famílias sobre os comportamentos dos alunos-viajantes, protagonistas da atividade:
No pedagógico, alunos-apresentadores demonstraram potencial argumentativo e domínio de causa sobre pontos visitados, a partir de pesquisas realizadas na Escola; e os colegas que os assistiram estiveram bem atentos. Houve diferenças de envolvimento e participação nas diferentes etapas do roteiro, mas no geral todos estiveram atuantes e antenados, até quando chegaram ao Aeroporto às 4h30min.
No educacional, não houve qualquer transgressão de ordem negativa. Pequenas falhas, cometidas por alguns poucos, decorreram mais da falha de combinados entre os acompanhantes e da falta de conhecimentos que os alunos/filhos já deveriam trazer do cotidiano familiar e escolar. Assim, é preciso orientar os viajantes para que em próximas vivências não comam chocolate em momentos designados para compra; deixem de consumir aquilo que não encontra utilidade em seu cotidiano; não misturem salgados e doces no mesmo prato durante o café da manhã; incorporem as atitudes positivas praticadas na escola como hábitos de vida.
No comportamental, também não houve nenhum caso que requeresse tratamento individual por gravidade, mas reunimos algumas observações que valem a pena ser socializadas, a fim de gerarem mudança de comportamento:
- Andar com cadarços desamarrados traz riscos de contaminação com a sujeira da rua, sem falar em eventuais quedas.
- Colegas que dividem a mesma mesa não devem servir-se da sobremesa enquanto seus pares ainda fazem a refeição.
- Em momentos de explicações dos monitores/acompanhantes nas visitas presenciais, a atenção deve ser redobrada, não devendo ocorrer conversa paralela ou dispersão.
- Quando se viaja em grupo, é preciso acompanhar o ritmo coletivo, sob pena de dispersar o trabalho ou atrasar a programação.
- Não se deve tocar em obras de arte (a não ser que haja um convite à interação) nem passar as mãos pelas paredes dos locais visitados.
- Frequentar um restaurante é muito mais que degustar a comida. Devemos reparar o entorno, o lay-out e a decoração, os cardápios oferecidos e a disposição dos alimentos, as pessoas que frequentam, o nível do atendimento e do serviço.
Assim como aconteceu com as publicações do blog, esperamos que esta matéria seja compartilhada entre alunos e suas famílias, não apenas para que quem viveu a viagem tenha oportunidade de socializar experiências e percepções, mas também para que se aproprie do vivido para aprimorar outras vivências, escolares e familiares.