Viagem Acadêmica a Campos do Jordão/Taubaté: perspectivas e conexões
30 outubro de 2014Por Paulo de Tarso Rezende Ayub
As viagens acadêmicas do Da Vinci são ramificações de atividades pedagógicas e, mesmo se diferenciando da rotina escolar, mantêm pontos de contato com nosso ideário educativo e a perspectiva cultural que abraçamos como tônica.
A viagem acadêmica a Campos do Jordão/Taubaté traz em seu bojo um misto de manutenções e inovações que lhes conferem um caráter dinâmico e inquieto que revigora os contextos de aprendizagem, sem perder a essência de objetivos e o comprometimento com a qualidade das produções.
Na primeira etapa do roteiro em 2014, centrada na “Capital Nacional da Literatura Infantil”, os alunos fizeram paralelos entre empreendimentos públicos, privados e comunitários, lidando com diferentes configurações da realidade. A análise comparativa, tão fundamental para a vida, exercida em profusão.
No Sítio do Pica-pau Amarelo, gerido pela Municipalidade, encontraram um museu pedagógico amparado pelo legado de Lobato e pela disposição dos personagens-monitores, mas estagnado em infraestrutura e condições de atendimento. O entorno natural é agradável, mas faltam outros atrativos para os turistas e visitantes. É preciso estar atento para que o espaço não venha a ser desativado, como aconteceu com o “Reino das Águas Claras”, na estrada entre Taubaté e Campos do Jordão.
Já no Hotel Fazenda Mazaroppi, empreendimento privado eleito como o melhor da categoria por anos sucessivos, deparamo-nos com outra realidade: ótima infraestrutura, notadamente na cidade cenográfica e no museu com rico acervo e recursos multimídia de última geração; monitores muito bem-preparados, abertos ao diálogo com professores e alunos; pontos de venda com variabilidade de peças e funcionários eficazes; restaurante de comidas típicas preparadas com requinte e uma decoração temática de clarear as vistas.
E no Distrito de Quiririm, o envolvimento comunitário dos descendentes de imigrantes italianos trouxe para os alunos a importância da atuação coletiva e do envolvimento da sociedade na ampliação de possibilidades e superação de limitações. O Museu de Cultura Italiana, a despeito de suas fragilidades, vem tentando se firmar como espaço cultural independente e produtivo, fruto de uma diretoria engajada. Os casarões decorados com painéis temáticos contendo rostos e cenas da imigração conferem às ruas uma aura diferente. Os moradores do distrito como cultuadores de memórias e protagonistas da preservação, num exemplo a ser multiplicado em recantos de nosso Estado que também trazem a imigração como marca.
Em Campos do Jordão, a ênfase foi dada à visita a centros culturais (Auditório Cláudio Santoro e Museu Felícia Leirner, Palácio Boa Vista e Igreja São Pedro, Museu Casa da Xilogravura), sempre sob condução de monitores. Devido à montagem de estruturas engessadas para atendimento aos visitantes, encontramos uma relativa dificuldade para vivenciar o espírito interativo que domina nossas pesquisas e estudos na Escola e que, em outras versões da viagem, mostrou-se mais acentuado. Dependendo dos monitores com que lidavam, os alunos encontravam maior ou menor espaço para interagir, ora sendo encarados mais como receptores do que como coprodutores, ora valorizados em suas contribuições, a usufruir os museus como espaços intimistas e vivos.
Na residência de inverno da Escola, os alunos assimilaram o conceito de “casa de campo”, imortalizado nas palavras de Zé Rodrix: um recanto onde se possa plantar amigos, discos e livros. Transitando ora pelos espaços internos da casa (com diferentes matizes de decoração e mobília), ora pelo jardim e pomar projetados (com suas fragrâncias de flores e frutos), os alunos-viajantes deram vazão ao sensorial, indo da contemplação à apreciação, da observação de pequenos a grandes detalhes, da sensação adormecida à expressão de sentimentos. Uma casa concebida como espaço de convivência, em perfeita integração com a natureza e em conexão com outros locais visitados, a exemplo do Museu Felícia Leirner, em que araucárias e plantas nativas misturam-se a esculturas; e cheiros ao tato.
Um capítulo à parte foi o tour gastronômico que realizamos. Nos hotéis Baobá e Flat Pallazo Reale, a delícia de se sentir acolhido pelo paladar: cafés da manhã impregnados de quitutes e almoços com receitas tendendo ao caseiro, muito apreciadas pelas crianças. No Hotel Fazenda Mazaroppi, um almoço em clima de fazenda, com alquimia de ingredientes e diversidade de pratos. Na Cantina Gadiolli e no Blue Mountain, almoços temáticos italianos com direito a antipasto, primo/ secondo piatto e dessert, num arranjo visual intocável e mescla entre ambientes de cantina e restaurantes sofisticados. No Frango Assado, a experiência do self-service e a oportunidade de conviver com outros clientes, observar preços e fazer escolhas. Em suma, a gastronomia como porta de entrada para muitas ampliações.
Para partilhar com professores/colegas e familiares suas experiências de viagem, os alunos produzirão diários de bordo com diferentes perspectivas: uma seção informativa, em que darão vazão ao racional; uma seção sensorial, em que o afetivo dominará a cena e uma seção artística, em que, por meio do desenho e texto explicativo, darão visibilidade ao ponto alto da viagem. Buscando inspiração nos ícones culturais dos quais tanto se aproximaram no planejamento e operacionalização da viagem, os alunos comporão um bom panorama de uma viagem que, mais do que ser descritiva e receptiva, propõe-se a ser transformadora.