Centro Educacional Leonardo Da Vinci

Por Paulo de Tarso Rezende Ayub

A concentração da gincana cultural do Ensino Médio em três dias corridos converteu a escola num laboratório de aprendizagens, experimentações e demonstrações culturais. A socialização dos trabalhos produzidos pelos alunos, em grupos ou no coletivo, ocorrida no dia da culminância (11/04/2014), trouxe à tona os bastidores das produções e a relevância de aliar o planejamento à consecução, o lúdico ao cultural, a função social ao conhecimento de causa.

O dia anterior, dedicado às concepções, esboços, execuções e aprimoramentos, transformou salas de aula e outros espaços da Escola (laboratórios de Física/Química/Informática; salas de aula e de Artes; locais de circulação) em ambientes vivos, preenchidos por movimentos legítimos de iniciativas e acabativas. No anfiteatro, foi criada uma rede wi-fi provisória, para acolher as necessidades dos alunos na busca do suporte da tecnologia para burilamento do pedagógico. Divididos em grupos/equipes, nossos estudantes puderam transitar entre espaços internos e externos na busca de materiais, colaborações e subsídios para se desincumbirem dos desafios que lhes foram apresentados. Autonomia, criatividade e superação foram as palavras-chave do processo.

O clima da socialização era movido a ansiedade e desejo de compartilhar. Reunidos no Auditório Leonardo, os alunos revezaram-se nos papéis de expositores e plateia, numa sintonia de afinidades e interesses. Todos os presentes puderam inferir a importância de uma apresentação contextualizada para valorizar as demonstrações culturais, além de estabelecer comparações entre estilos artísticos, modos de dizer e domínios de recursos tecnológicos. Também ficou visível a importância da mesa-redonda que inaugurou a atividade (conduzida por profissionais-autores de páginas da agenda) para iluminar a trajetória dos alunos na produção e socialização de saberes, impressões e reflexões.

A estilização de violinos para impregná-los de referências às manifestações da cultura italiana entre nós foi uma tarefa cumprida com esmero pelos grupos executores, que conseguiram mesclar elementos naturais e culturais, contribuições da agenda ou de outras fontes, olhares focados e panorâmicos. Em matéria de estética, cuidaram dos mínimos detalhes e da apropriação de técnicas variadas, de alto relevo a apliques, da colagem à pintura, do uni ao tridimensional.

A releitura de telas de Attilio Colnago propiciou aos alunos liberdade na expressão artística e seleção de temas que os inspirassem a produzir ensaios de pensamento a partir das realidades em que transitam e das obras-de-arte que integram seu currículo. A ditadura da beleza, o descaso com o desenvolvimento sustentável, o domínio tecnológico e o respeito à privacidade compareceram nas criações dos alunos em produções com apuro estético e função engajada. As explanações orais tornaram visíveis as simbologias utilizadas e a conexão entre detalhes que, se não explicados idealmente, passariam despercebidos ao apreciador.

Os videoclipes criados em torno da biografia de personalidades retratadas na agenda (Nono Gusto, Renato Casara, Attilio Colnago e Virgínia Tamanini) reuniram diferentes estratégias comunicativas e movimentos criativos: do olhar sensível/silencioso ao talk show, do vídeo embalado a música clássica à concepção de esquetes com os alunos atuando como protagonistas, de legendas ilustrativas a falas esclarecedoras. Interessante que cada turma optou por se debruçar sobre a vida e obra de um personagem, o que serviu para ampliar o repertório cultural de todos os presentes em torno de descendentes italianos que fizeram ou fazem diferença na construção da identidade capixaba.

As tomadas fotográficas produzidas em máquinas pinhole construídas pelos grupos executores e reveladas em ambiente propício no interior da Escola (nos mesmos moldes utilizados por imigrantes italianos em épocas passadas) foi uma tarefa que desafiou os alunos a um fazer inteligente, pautado em ensaios/erros e na substituição de improvisos por ações refletidas. Retratando cenas do cotidiano dos imigrantes (a chegada em navios, o lavoro na terra, os momentos em família), as fotos exibidas trouxeram uma verossimilhança surpreendente e tornaram-se ainda mais ricas na medida em que se dava a conhecer os ganhos e dificuldades do processo de produção, num resgate do valor intimista da fotografia tão relegado na era digital.

A simulação de fragmentos da Carretela Del Vin, com contextualização histórica, foi a última tarefa de grupo apresentada antes do recreio. Executando a coreografia da tarantela, desfilando em carros alegóricos ou interagindo com a plateia, as equipes executoras fizeram uma mobilização natural pelo resgate do valor afetivo dessa manifestação. Assumiram o papel de representantes de descendentes italianos indignados com o descaso com as tradições, rompendo com o relativismo que acaba comprometendo a essência de manifestações culturais legítimas.

A última parte dos trabalhos consistiu na montagem de uma feira temática italiana, no espaço verde, abertas à participação dos alunos de outros segmentos, pais em geral e pessoas do círculo de relação dos alunos. A busca de proximidade com feiras reais, a diversidade de ofertas e produtos, a interação com o público-alvo, a decoração visual/estética e o cuidado com o marketing concorreram para uma autêntica simulação da realidade, rompendo com o artificialismo de algumas situações escolares.

O encontro entre os alunos expositores (motivadíssimos) e um público-alvo receptivo e afetuoso resultou num movimento de grande beleza, seja pelas trocas socioculturais, seja pelos valores agregados (planejamento estratégico, empreendedorismo, relação custo/benefício, prestação de contas). A atitude profissional dos alunos para acolher o grande fluxo de visitantes e administrar demandas da vida real transformou a experiência num marco, o que se fez ainda mais significativo com as doações dos lucros apurados para instituições assistenciais, de forma autônoma ou em integração com iniciativas abraçadas pela Escola.

Na outra tarefa de natureza coletiva desempenhada pelas turmas (uma mostra fotográfica digital em torno de memórias e vivências da cultura italiana no Estado do Espírito Santo), houve valorização do potencial da Internet como fonte agregadora, mas também um estímulo para que se buscassem produções personalizadas e diversificação de fontes, além de diálogos entre palavras e imagens e conexões entre História e estórias de vida.

Independente do resultado final apurado e da consideração da atividade como parâmetro de terceira nota para todas as disciplinas do currículo, a gincana cultural do Ensino Médio congregou todos os participantes como vencedores, firmando-se como cidadãos aptos a resolver problemas e a tomar decisões; como indivíduos criativos e produtivos; como sujeitos do conhecimento, respeitosos consigo mesmos e com os pares.