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Parceria Solidária – depoimento do aluno Caio Missagia

23 dezembro de 2015

No final de novembro aconteceu no Da Vinci o encerramento de 2015 do Projeto Parceria Solidária.  Há cinco anos o Leonardo Da Vinci mantém uma parceria com a Escola Municipal Aristóbulo Barbosa Leão. Nesse projeto, os alunos do Da Vinci ministram aulas de inglês e matemática para dezesseis alunos da escola parceira. Nessas aulas, que ocorrem as sextas-feiras, os alunos das duas escolas vivenciarem experiências diferentes e enriquecedoras. Veja o depoimento do aluno Caio Missagia do 1ºI2:

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Aluno Caio Missagia durante aula no projeto

Retro perspectivas

Caio Missagia

Não há experiência tão vislumbrante quanto ser um aluno dissimulado professor. Os papeis agora estão invertidos. Sem lápis, borracha, caderno e carteira: agora é lousa, pincel, postura e voz. Como docentes, aprendemos muito mais do que ensinamos não se trata de razões trigonométricas e propriedades logarítmicas. Dissimulados professores, apreendemos algo de muito maior valor: o olhar sob novas (e antigas) perspectivas.

Principalmente na Matemática, o processo do aprendizado é muito mecânico, automatizado, e, de tão natural, não paramos para indagar: “por quê?” Por que sistemas de equações funcionam? Por que a “regra de três” é tão eficaz? Comportamo-nos como máquinas diante de operações e situações-problema que raramente são vistas como compatíveis no cotidiano. Quando escrevemos esses números e sinais na lousa de forma tão natural, e ouvimos um jovem e inocente “mas por que, professor?”, nossas cabeças vão além da busca por uma resposta racional. Elas despertam uma sensação nostálgica: a da curiosidade de uma criança. Vem à memória uma breve retrospectiva daqueles anos tão ingênuos em que ainda havia curiosidade para perguntar o porquê das coisas mil e uma vezes até que não houvesse mais resposta, como descamando uma cebola. E esse é o verdadeiro papel de um aluno: não se contentar apenas com o que está escrito na lousa, mas “chutar a canela” do professor.

Uma aula eficaz é aquela na qual o professor passa a lição, os alunos resolvem sem muitos problemas, e acaba aí. Mas isso não é o bastante. As aulas precisam ser eficientes: gerar nos aprendizes uma ânsia de querer mais, um não contentamento com o doutrinal. São aulas desse cunho que servem para mais que o ensinamento de “ítmos” e “metrias” aos alunos. É nelas que os curiosos ensinam a nós, professores-alunos, que nos metamorfoseamos em alunos-alunos. Enxergar o mundo por trás da retina dos brilhantes olhares de idades, classes sociais, patamares pedagógicos e pensamentos diferentes é um valor que proporciona a habilidade da flexibilidade neste mundo tido tão variável, inconstante e imprevisível. Saber como pensa aquele com quem se está lidando é um catalisador nas relações interpessoais: ajuda a compreender interpretações, aceitar pontos de vista e solucionar problemas.

O cunho solidário da Parceria é de tremendo préstimo para ambos, professor e aluno, (papéis que se invertem, confundem e embaralham em um longo malabarismo de dúvidas e respostas, onde por vezes não sabemos mais quem é quem), postas em conta a visão sob novas e revividas perspectivas do primeiro e, para o segundo, a oportunidade de aprender com eficiência, e não apenas eficácia, conteúdos aos quais muitos dos pequeninos não têm acesso.

A Parceria Solidária é mais do que seu nome diz: se alastra muito além de parceria e solidariedade. Do lado dos que estão sentados, um mundo de oportunidades, que transformam espelhos em janelas, é oferecido, tornando-os, essencial e meritoriamente, verdadeiros pupilos de destaque. Do lado dos que estão em pé, ao invés, um mundo novo não lhes é apresentado. Melhor que isso: aprendem a enxergá-lo de formas diferentes, novas ou desvanecidas, tornando compreensível a visão a partir de múltiplos olhares, despertando modos de pensar infantes, que já não mais parecem tão irracionais, e transformando os alunos-professores, professores-alunos, alunos-alunos, como se queira, em indivíduos multidisciplinares.

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